domingo, 31 de maio de 2009

tenho um gato dentro do carro. andei o domingo com ele. 50 kms. não se queixou muito. tinha entrado durante a noite. provavelmente estaria a dormir quando eu acordei e comecei a guiar. o carro. à noite, quando me aproximava de casa vi outro gato a correr na direcção do carro, na nossa direcção. presumo que seria a mãe. enquanto abandonava o local onde tudo teria acontecido pela primeira vez, vi a mãe gata a entrar pelo motor dentro. deixei-os. agora penso que amanhã vou ficar triste por ter ou não ter mãe-e-filho-gatos no meu carro. ainda bem que a minha vida acontece em cima destas coisas. de outra maneira não suportaria a máquina de lavar roupa de domingo à noite.
pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

não sei o que me dá.
uma travagem na lingua,
quando dizer tão pouco te dá tanto.


pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

do ouro negro não sei nada.
ando perdido e encontrado
por entre peles pálidas e cabelo loiros,
sem sul nem norte, porque o mundo gira
devagar demais para o meu poente.
e lá no restício brilhante do horizonte,
as aves não ficam para a fotografia.
são as eólicas do novo programa energético
que me fazem funcionar quando está tudo apagado.
e fico, a chutar fortemente alguns grãos de areia.
são uma imensidão de pequenas individualidades.
todos soltos, todos juntos, tão reflectidamente encontrados.
um a um.
como os passos que nunca contamos.
fica a sugestão, de contar os passos. de pensar neles.
esta motivação constante de fazer alguma coisa.
porque é assim. não consigo parar. não consigo parar.
até o acto de dormir é um teste. e durmo bem. profundo.
é uma bola de basquete que rodopia na mão de um gigante.
tenho dois metros e um
metro de dúvidas.
talvez mais(.) para ser franco
mantenho-a em redopio.
e se tivesse duas bolas!!!...
... o que faria?
pedro torres
vc 2009

quarta-feira, 20 de maio de 2009





descemos a rua toda para compreender que não podemos descer mais.

pedro torres
vc 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

por vezes sinto-me um soluço, da alma de alguém.

pedro torres
guarda 2009

sábado, 16 de maio de 2009

às pessoas que clicam no meu blog (suponho que sejam mais do que uma....), apenas dizer que ele não é um diário mas uma representação constante e aleatória de pouco mais do que nada.
pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

sabes daquela raiva miuda?
miuda, sabes daquela raiva?
é que não a encontro em lado nenhum.
perdeu-se, pifou-se, escapuliu-se.
não sei se saiu ou se entrou.
não sei se para fora ou para dentro.
se para longe ou lá para o fundo. fundinho.
onde as vozes não falam
e as raivas não gritam.
foi-se. puta!

pedro
a alucinar positivamente em vc

sábado, 9 de maio de 2009

entras.
os teus passos nas minhas escadas.
a tua sombra na minha porta.
a tua roupa no meu chão.
o teu corpo na minha mesa.
a tua alma na minha cama.
voltas a entrar.
com os teus passos na minha vida.
com a tua sombra na minha mente.
com a tua roupa no meu dinheiro.
(que te despe sozinho)
com o teu corpo na minha boca faminta.
com a tua alma, que não tens.
e já não me vale de nada o desejo
já não me vale de nada o estojo das canetas antigas
e as rúbricas dedicadas a ti, pessoa sem alma,
porque já não existes onde te procuro.
fugiste sem deixar rasto, sem olhar para a frente...
onde eu estou à espera, olhando para trás,
nessa imensidão turva do ar denso que te separa de mim.
e já não me vale de nada lembrar o teu nome
porque não te chamo nunca.
já não me vale de nada escrever-te
porque não escrevo para ti, que não existes.
pedro torres
alucinando positivamente em casa desta gente - 2009

quinta-feira, 7 de maio de 2009


lá vai ela do zero aos cem outra vez com as cuecas mal postas no centro do arco que segura a saia.
corre corre muito depressa e esquece-se que para trás há um caminho que a leva ao mesmo sítio.
a roda é grande e gasta muito tempo, muita energia bem gasta e mal gasta, mal pode com o corpo já.
morre no mesmo sítio onde nasce para dizer "eu estou aqui".
ouve-se uma gargalhada muito grande, muito gasta... não se houve nada já.

pedro torres
vc 2009
os mistérios das palavras assustam-me.
enrolamos demasiado e desenrolamos muito pouco e muito mal,
por isso não me digas coisas que sabes que eu não vou compreender.
já me conheces?
diz-me o silêncio todo, inteiro
e dá-me antes os teus olhos e o que resta do teu sofrimento para eu gastar...

pedro torres
vc 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...


- "Álvaro de Campos..."

Pedro
vc 2009