quinta-feira, 25 de junho de 2009

quero desistir. de entender ou tentar.
quero ir para um sítio que me encontre.
que o sítio me encontre.
parar de procurar caminhos,
para sítios que não existem.
porque é humano viver os caminhos
mas absurdo, chegar a lado nenhum.
quero parar e deixar o caminho sozinho,
a rolar por baixo de mim, como nos filmes antigos.
se calhar vivo num filme moderno demais para mim.
quero desistir. de ser protagonista.
quero ir para um sítio que me encaixe num lego já feito.
que o sítio me encaixe.
parar de abrir fendas à força,
em rochas húmidas e escorregadias.
porque é bonito sentir a água fria e agitada nos pés
mas doloroso deixá-la entranhar-se na pele.
hoje, o meu filho apresentou a festa de finalistas do infantário.
vai saltar pujantemente para a primária. mudar de filme.
e eu percebi que não consigo chorar...
pedro torres
vc 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009


Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.


Fernando Pessoa

domingo, 21 de junho de 2009

aglutina. simples. passa a vida a pensar. quando não pensa esquece-se. existe na mesma mas não pensa. não interessa. e depois volta ao organismo sintético do pensamento. faz um esforço tão arbitrariamente grotesco. depressão. chega de reflexões, vai ao prático para fugir da linha baixa do eixo dos x's e dos y's. é um L sem guarda a norte e a este e por isso existe para sempre seja qual for a posição da linha. sobe e desce e pára. há coisas pelo meio que não entende. coisas que vêm, coisas que ficam, coisas que passam. no fundo é isso. falta a música que passa porque não anda para trás. tem um enorme desejo pelo desejo. fode por desejo e para o desejo. deviam liberalizar a palavra foder. na vida há coisas que interessam. nunca dizemos o que queremos a quem queremos que nos ouça. não deviam internetizar a comunicação livre. ela é livre. eu também.
pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

o que é nosso é o que nos é dado.
não o que nos é prometido.
pedro torres
vcc 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009



99% das pessoas deviam ser proíbidas de usar a palavra compreensão
mas o mais curioso é que o restante 1% das pessoas não a usa.

pedro torres
vc 2009

sábado, 6 de junho de 2009

erros e afins

eis a resposta à minha prece.
não há pressa na ansiedade remota.
com os teus cordelinhos vais manipulando
e eu espero sentado, apertado, janota.
pois nem sempre há o quando,
que acontece quando o quando quer.
quando o quando se nota.
quando não se nota, não há mulher
que existe... só quando quer.
e eu espero sentado, triste, velho
por não ter uma palavra que te parta
por não ter uma música que te dedique.
(a não ser a "vai pró raio que")
ao meio para te dividir.
já fui a pique tantas vezes, para quê?
para ouvir o assim sou feliz, a rir
de tanta anedota que a minha maneira permite.
não permite mais. deixa-me sozinho.
deixem-me sozinho corrijo, se não tive coragem
alguém há-de entender o porquê.
não interessa quem.
ai gato feroz...
não gosto de ti.
saiste de casa.
pedro torres barreiros
vc antes e depois

segunda-feira, 1 de junho de 2009

"Sé que he perdido tantas cosas que no podría contarlas y que esas perdiciones, ahora, son lo que es mío. Sé que he perdido el amarillo y el negro y pienso en esos imposibles colores como no piensan los que ven. (...) Todo o poema, con el tiempo, es una elegía. Nuestras son las mujeres que nos dejaron, ya no sujetos a la víspera, que es zozobra, y a las alarmes e terrores de la esperanza. No hay otros paraísos que los paraísos perdidos."


Jorge Luis Borges

obrigado :)