quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

as memórias e o natal

Estava sentado no sol e em cima da minha cadeira pousava todo o seu peso. Leve, muito leve. Na praça onde passou a mulher da minha vida e eu não a vi. Passou o cão que se ia afogando no gelado derretido do meu filho. O meu filho não estava. Era eu que comia o seu gelado derretido. O gelado só derreteu porque eu não vi passar a mulher da minha vida. As coisas só derretem porque não se vivem.

Nessa manhã de verão estavam agitados os chapéus de sol. Uma idosa caiu mesmo à minha frente em cima de uma casca de banana que não foi vivida. E por momentos pensei que aquela agitação atmosférica era um espelho da minha alma boémia. Não me levantei para a acudir e maior foi o esforço dos meus olhos em observar a corrida desenfreada dos transeuntes que para ela se dirigiam do que o esforço que teria feito se me levantasse e desse dois passos. Foi a minha forma de viver o momento. Por isso o conto desta forma.

...


Mais tarde com areia nos pés, um marido que já não o devia ser deixou a chave do seu carro que já não devia ser seu, à sua mulher que, definitivamente, não deveria ser sua, depois de discutir convictamente a discordância de opinião em relação à posição relativa do corta vento que também não deveria ser dele. Vento persistente. Deixou-a sozinha deitada na areia e ela, ali ficou até decidir não ficar mais. Levantou-se, enrolou o corta vento e dirigiu-se ao carro. No caminho, um dos suportes metálicos caiu no chão. Pensei levantar-me e avisar a mulher, que deveria ser divorciada, como eu. Não o fiz.

A entrada da cidade estava quente. Um pretexto para visitar um sitio fresco que me trouxesse memórias geladas de tempos escaldantes partilhados com aquela morna qualquer. Vista sobre a cidade e sua saída, ao fundo, do lado esquerdo, nesse trajecto ponte que sonhei um dia começar com ela. Não tenho de me lembrar das coisas boas. Só das más. É o mal que move a memória, que transforma o acontecimento-facto em acontecimento-fumo.

Hoje estou feliz. Os aviões voam. Os pássaros cagam e mijam ao mesmo tempo. As mulheres são fornicadas. Os homens choram. Porque não têm dois pénis. As mulheres riem, enquanto são fornicadas, e desejam esse segundo. Já não tenho avós nesta minha adolescência. Morreram há dez anos quando eu era criança. Gosto de ti. Longe e perto da mesma maneira. Riu e choro ao mesmo tempo, o meu coração faz tum-tum mais rápido do que é habitual e só me apetece ouvir canções de Amor!










Não considero escrever a isto que faço por aqui. Utilizo a pontuação porque tenho medo, as palavras porque não sei exprimir os meus sentimentos e a lógica como forma ludibriada da realidade. Sou um falhanço enquanto escrevo. E só escrevo na tentativa de racionalizar/minimizar os falhanços da minha vida. Deixo de escrever para deixar de falhar e deixo de falhar para deixar escrever. Fácil. Não vou negar que o mundo é complexo demais para mim e, em coerência, não deveria tentar exprimi-lo ou espreme-lo através de raciocínios escritos, através de mecanismos tão estéticos como são os jogos de palavras. Sou ansioso por natureza. As palavras são rápidas. Os sentimentos não. Demoram-se no caminho, para se assegurar do cumprimento do seu papel na hierarquia da importância das coisas. Se são importantes? Poderíamos viver sem eles? (e não vou fazer a mítica comparação idiota com os animais que supostamente não sentem). Não creio. São a unidade transversal a todas as dimensões do desenvolvimento da vida e da sua decadência, e em nenhum momento surgem de actos incutidos por terceiros ou por fenómenos sobrenaturais exteriores. São a unidade mais infinitamente íntima da nossa existência como ser individual e colectivo. O ser-sentimento.

Isto pode explicar porque não ouso dizer Amor quando não sinto, porque o que sinto é um fogo vulcânico por alguém com quem quero passar, hoje, o resto da minha vida.
Isto pode explicar porque detesto o silêncio e a distância, porque o que amo é sentimento e esse não se cala nunca.Isto pode explicar porque escrevo.
Algures em 2008

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

vinha a correr muito depressa.

entalou-se com um caroço de uma maçã imaginária.

tropeçou e caiu.

ainda não se pôs de pé. não interessa.

... o meu sonho já chegou a ser a rampa eterna da entrada do festival de paredes de coura.

não faz sentido. não é para fazer. já chega o sentido de todos os dias.



ptb
porto
2009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

junho barcelona
setembro madrid
setembro marrocos
novembro londres

sede.



ptb
porto 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

sinto-me como uma matrioska. em versão feminina sim, não sei, sinto-o. uma avózinha em tempo de guerra, uma babuchka! imagino, tanto a ânsia de explosão da menina vermelha mais pequena como o desejo de sumisso da laranja maior, esbatida pelo sol, matriarca, protectora, mãe. existe um caminho entre elas, figurado noutras tantas ou mais bonecas, um caminho que o desejo de precorrer suplanta qualquer outra necessidade. é o meu caminho.
pedro
porto 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

acho que bato mal

Um baloiço no meio dos edifícios altos e escuros, uma sirene persistente, uma chuva ácida miuda que enferruja, um céu muito cinzento, cizudo, prepotente, um chão escorregadio e húmido, um passeio tépido a meio da tarde, uma pequena longa-viagem pelo fim-objectivo, um vai-e-vem mais mental do que físico, uma necessidade, duas necessidades, uma necessidade toda, uma mulher bonita, um elevador que sobe e desce, uma paisagem da memória e suas mil-e-uma parecenças, uma fuga à doença, uma luta com ela, (e mais) uma volta.
pedro
porto 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

longe dos sentidos apurados da convalescência, longe dos atributos da ansiedade, longe da vertigem clássica... longe de um pedro que não sabe se me conhece! onde está a capacidade de adivinhar, de pressentir a consequência do acto mais ínfimo do ser humano? era tão mais esclarecido se não me esclarecesse em cima do joelho. doi-me as pernas...
ptb
porto 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

quando leio as palavras que circulam na minha cabeça à espera, ou não, de serem materializadas, o que acontece é realmente o ser pedro. a condução do ser-pensado à materialização provada é o processo mais difícil para mim. por palavras simples, não me sei exprimir.
pedro torres
porto 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

longas e demoradas parcelas de tempo separam as longas e demoradas parcelas de corpo que compõe o meu ser.
pedro
porto 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009



este vento desnorteia as pessoas.
vou-me embora.

ptb
2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

sentido

hoje sou setembro.
sou mudança.
sou sentido.
há um pedal que circula no tempo do relógio, no seu sentido.
o outro pedal, está sentido e circula no sentido contrário.
por isso nao sinto (ainda) que vou a lugar algum...
espero,
pelo sentido que falta,
apaixonado.
ptb 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

no meio fundo da relva solta. estou.
ao longe vertical e espelhado
há pássaros que voam asfixiados pela liberdade.
cá em baixo estendo a mão pouco elástica.
espero que um deles pouse.
para lhe sentir a forma, roubar-lhe um cheiro de liberdade.
não consigo voar. estou pesado e magro.
defecam.me em cima.
não tenho nenhum ninho, nenhuma árvore
onde me possa enconder.
sou um monte de merda de pássaros livres.
ptb
post.agonia
2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

se penso, é porque divago; se sonho, é porque estou desperto. Tudo em mim se embrulha comigo, e não tem forma de saber de ser.
ptb 2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

aprendo com o tempo, pelas tuas mãos.

ptb
vc 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

cheira-me a novo.
pedro
vc 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009

quando for grande quero ser eu.

ptb
2009

sábado, 25 de julho de 2009

à la carte, comida criativa, 40 almoços, 40 jantares... mil desenhos. estou morto.
ptb 2009
devia beber menos
água, que te quero estranhamente.
devia viver menos
vida, que te quero estranhamente.
devia pensar menos,
em ti, que te quero estranhamente.
devia.
pedro
vc 2009
o que eu quero mesmo é viver sentado,
uma vida simples no sopé da montanha
e olhar para cima como quem olha para baixo.
o que eu quero mesmo é viver deitado,
uma mulher simples nos pés da cama
e olhar para o fundo como quem olha o espelho.
o que eu quero mesmo é viver,
uma coisa...
e olhar para ela
e ver o que eu quero mesmo.
e espero de pé.
pedro
vc 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

pouco a pouco percebendo
que o meu amor não existe
na abundância do teu desejo.
por isso fico só, e com ele
me vejo, revejo e prevejo
no vazio que me deixaram
as tuas provas de amor...
só queria estar irado
para te insultar o desespero
ou a intenção de quem espera
por nada, eu não tenho nada.
pedro torres
2009
ordem de despejo.
na rua as malas e maletas saltitam
os vizinhos espiam
os outros falam
e eu fujo. de mim.
para dentro de um tecto ondulado
que me entenda
que me encaixe
que me excite
que me falte
ptb
vc 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

auto-centrado

eu so penso em mim porque existem os outros. de outra forma não teria essa necessidade.
ptb
guarda 2009

domingo, 19 de julho de 2009


parou.
ptb
vc 2009

sábado, 18 de julho de 2009

o melhor é deixar o mundo ficar assim.
ptb
vc 2009
[ ]
ptb
vc 2009

domingo, 12 de julho de 2009

hoje gemi como uma mulher.
foi a primeira vez que ouvi uma mulher gemer.
não há melhor mudança na cabeça de um homem
do que constatar que a dor é uma expressão livre.
ptb
2009

quinta-feira, 9 de julho de 2009

data

há uma data de tontos, uns à volta dos outros, encenando vidas.
contaram-lhes assim.
no quintal da minha avó havia umas plantas esguias com pétalas perpendiculares.
não me recordo da pobreza porque o meu avô era poeta.
contou-me assim.
hoje,
olho para o monte de chapa e concreto à minha volta e sei que foi construido pela data de tontos.


ptb 2009 à volta

quinta-feira, 25 de junho de 2009

quero desistir. de entender ou tentar.
quero ir para um sítio que me encontre.
que o sítio me encontre.
parar de procurar caminhos,
para sítios que não existem.
porque é humano viver os caminhos
mas absurdo, chegar a lado nenhum.
quero parar e deixar o caminho sozinho,
a rolar por baixo de mim, como nos filmes antigos.
se calhar vivo num filme moderno demais para mim.
quero desistir. de ser protagonista.
quero ir para um sítio que me encaixe num lego já feito.
que o sítio me encaixe.
parar de abrir fendas à força,
em rochas húmidas e escorregadias.
porque é bonito sentir a água fria e agitada nos pés
mas doloroso deixá-la entranhar-se na pele.
hoje, o meu filho apresentou a festa de finalistas do infantário.
vai saltar pujantemente para a primária. mudar de filme.
e eu percebi que não consigo chorar...
pedro torres
vc 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009


Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.


Fernando Pessoa

domingo, 21 de junho de 2009

aglutina. simples. passa a vida a pensar. quando não pensa esquece-se. existe na mesma mas não pensa. não interessa. e depois volta ao organismo sintético do pensamento. faz um esforço tão arbitrariamente grotesco. depressão. chega de reflexões, vai ao prático para fugir da linha baixa do eixo dos x's e dos y's. é um L sem guarda a norte e a este e por isso existe para sempre seja qual for a posição da linha. sobe e desce e pára. há coisas pelo meio que não entende. coisas que vêm, coisas que ficam, coisas que passam. no fundo é isso. falta a música que passa porque não anda para trás. tem um enorme desejo pelo desejo. fode por desejo e para o desejo. deviam liberalizar a palavra foder. na vida há coisas que interessam. nunca dizemos o que queremos a quem queremos que nos ouça. não deviam internetizar a comunicação livre. ela é livre. eu também.
pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

o que é nosso é o que nos é dado.
não o que nos é prometido.
pedro torres
vcc 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009



99% das pessoas deviam ser proíbidas de usar a palavra compreensão
mas o mais curioso é que o restante 1% das pessoas não a usa.

pedro torres
vc 2009

sábado, 6 de junho de 2009

erros e afins

eis a resposta à minha prece.
não há pressa na ansiedade remota.
com os teus cordelinhos vais manipulando
e eu espero sentado, apertado, janota.
pois nem sempre há o quando,
que acontece quando o quando quer.
quando o quando se nota.
quando não se nota, não há mulher
que existe... só quando quer.
e eu espero sentado, triste, velho
por não ter uma palavra que te parta
por não ter uma música que te dedique.
(a não ser a "vai pró raio que")
ao meio para te dividir.
já fui a pique tantas vezes, para quê?
para ouvir o assim sou feliz, a rir
de tanta anedota que a minha maneira permite.
não permite mais. deixa-me sozinho.
deixem-me sozinho corrijo, se não tive coragem
alguém há-de entender o porquê.
não interessa quem.
ai gato feroz...
não gosto de ti.
saiste de casa.
pedro torres barreiros
vc antes e depois

segunda-feira, 1 de junho de 2009

"Sé que he perdido tantas cosas que no podría contarlas y que esas perdiciones, ahora, son lo que es mío. Sé que he perdido el amarillo y el negro y pienso en esos imposibles colores como no piensan los que ven. (...) Todo o poema, con el tiempo, es una elegía. Nuestras son las mujeres que nos dejaron, ya no sujetos a la víspera, que es zozobra, y a las alarmes e terrores de la esperanza. No hay otros paraísos que los paraísos perdidos."


Jorge Luis Borges

obrigado :)

domingo, 31 de maio de 2009

tenho um gato dentro do carro. andei o domingo com ele. 50 kms. não se queixou muito. tinha entrado durante a noite. provavelmente estaria a dormir quando eu acordei e comecei a guiar. o carro. à noite, quando me aproximava de casa vi outro gato a correr na direcção do carro, na nossa direcção. presumo que seria a mãe. enquanto abandonava o local onde tudo teria acontecido pela primeira vez, vi a mãe gata a entrar pelo motor dentro. deixei-os. agora penso que amanhã vou ficar triste por ter ou não ter mãe-e-filho-gatos no meu carro. ainda bem que a minha vida acontece em cima destas coisas. de outra maneira não suportaria a máquina de lavar roupa de domingo à noite.
pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

não sei o que me dá.
uma travagem na lingua,
quando dizer tão pouco te dá tanto.


pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

do ouro negro não sei nada.
ando perdido e encontrado
por entre peles pálidas e cabelo loiros,
sem sul nem norte, porque o mundo gira
devagar demais para o meu poente.
e lá no restício brilhante do horizonte,
as aves não ficam para a fotografia.
são as eólicas do novo programa energético
que me fazem funcionar quando está tudo apagado.
e fico, a chutar fortemente alguns grãos de areia.
são uma imensidão de pequenas individualidades.
todos soltos, todos juntos, tão reflectidamente encontrados.
um a um.
como os passos que nunca contamos.
fica a sugestão, de contar os passos. de pensar neles.
esta motivação constante de fazer alguma coisa.
porque é assim. não consigo parar. não consigo parar.
até o acto de dormir é um teste. e durmo bem. profundo.
é uma bola de basquete que rodopia na mão de um gigante.
tenho dois metros e um
metro de dúvidas.
talvez mais(.) para ser franco
mantenho-a em redopio.
e se tivesse duas bolas!!!...
... o que faria?
pedro torres
vc 2009

quarta-feira, 20 de maio de 2009





descemos a rua toda para compreender que não podemos descer mais.

pedro torres
vc 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

por vezes sinto-me um soluço, da alma de alguém.

pedro torres
guarda 2009

sábado, 16 de maio de 2009

às pessoas que clicam no meu blog (suponho que sejam mais do que uma....), apenas dizer que ele não é um diário mas uma representação constante e aleatória de pouco mais do que nada.
pedro torres
vc 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

sabes daquela raiva miuda?
miuda, sabes daquela raiva?
é que não a encontro em lado nenhum.
perdeu-se, pifou-se, escapuliu-se.
não sei se saiu ou se entrou.
não sei se para fora ou para dentro.
se para longe ou lá para o fundo. fundinho.
onde as vozes não falam
e as raivas não gritam.
foi-se. puta!

pedro
a alucinar positivamente em vc

sábado, 9 de maio de 2009

entras.
os teus passos nas minhas escadas.
a tua sombra na minha porta.
a tua roupa no meu chão.
o teu corpo na minha mesa.
a tua alma na minha cama.
voltas a entrar.
com os teus passos na minha vida.
com a tua sombra na minha mente.
com a tua roupa no meu dinheiro.
(que te despe sozinho)
com o teu corpo na minha boca faminta.
com a tua alma, que não tens.
e já não me vale de nada o desejo
já não me vale de nada o estojo das canetas antigas
e as rúbricas dedicadas a ti, pessoa sem alma,
porque já não existes onde te procuro.
fugiste sem deixar rasto, sem olhar para a frente...
onde eu estou à espera, olhando para trás,
nessa imensidão turva do ar denso que te separa de mim.
e já não me vale de nada lembrar o teu nome
porque não te chamo nunca.
já não me vale de nada escrever-te
porque não escrevo para ti, que não existes.
pedro torres
alucinando positivamente em casa desta gente - 2009

quinta-feira, 7 de maio de 2009


lá vai ela do zero aos cem outra vez com as cuecas mal postas no centro do arco que segura a saia.
corre corre muito depressa e esquece-se que para trás há um caminho que a leva ao mesmo sítio.
a roda é grande e gasta muito tempo, muita energia bem gasta e mal gasta, mal pode com o corpo já.
morre no mesmo sítio onde nasce para dizer "eu estou aqui".
ouve-se uma gargalhada muito grande, muito gasta... não se houve nada já.

pedro torres
vc 2009
os mistérios das palavras assustam-me.
enrolamos demasiado e desenrolamos muito pouco e muito mal,
por isso não me digas coisas que sabes que eu não vou compreender.
já me conheces?
diz-me o silêncio todo, inteiro
e dá-me antes os teus olhos e o que resta do teu sofrimento para eu gastar...

pedro torres
vc 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...


- "Álvaro de Campos..."

Pedro
vc 2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mírenme, a la vida vuelvo ya
La la la
Pajarillo, tú me despertaste
Enséñame a vivir
En un abismo yo te esperé
Con el abismo yo me enamoré
Pájaro, me despertaste
Pájaro, no sé porqué Mírenme, a la vida vuelvo ya
La la la
Pajarillo, tú me condenaste
A un amor sin final
En un abismo yo te esperé
Con el abismo yo me enamoré
Pájaro, me despertaste
Pájaro, no sé porqué
Mírenme, a la vida vuelvo ya
La la la
Pajarillo, tú me condenaste
A un amor sin final
En un abismo yo te esperé
Con el abismo yo me enamoré
Pájaro me despertaste
Pájaro yo sé porqué

Mírenme, a la vida vuelvo ya
La la la

"pajaro -lhasa la llorona"

pedro
vc 2009

um eu amarelo

eu sei bem.
as ruas são um fogo, tu também pareces ser calor.
ando à procura morto cansado... à procura mas não vejo ninguém.
são os teus braços que me agarram, tanto que eu nem sei, sofro ou faço sofrer?!!?
mesmo quando cai o sol e a carne quer mandar, carne electrica, estalando a rebentar.

se eu bater á porta, deixa-me entrar, se eu chamar por ti, faz-me um sinal... f
faz o teu preço, leva tudo é teu...


pedro torres
vc 2009

domingo, 26 de abril de 2009

"sabés?"

há uma mancha estendida de pequenas luzes ao fundo, que reflectem o meu imaginário sobre a vida das pessoas, sobre aquelas que, em determinado momento, estão longe. é a primeira visão que reconheço na lucidez. ao perto, ergue-se astuto o orgão central da minha estrutura, formado em betão e cheio de grandes luzes que ofuscam a consciência de mim próprio. é um conjunto de duas coisas. a minha visão futurista/alarmista... o medo do fundo e o presente sólido e inevitável. se tivesse de passear o cão que não tenho evitaria o concreto. escolheria o caminho da visão lá do fundo, onde poderia admirar aquilo que ainda não sei. todos os dias penso no que me aconteceu e descubro que a força que retenho resistente dentro de mim não me dá pistas para o dia seguinte mas para uma coisa que há-de acontecer depois, mais tarde, quando o sol se puser mais tarde (como braço elástico da minha emoção mais forte)


pedro torres
vc 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

e o ponto final?

é estranho?
o que se entranha quando tu habitas o quarto interior do meu corpo t2?
apetece-te berrar muito alto para que as paredes que construíste ruão?
ou tens, antes, de massagar suavemente a sua superfície e deixar-me viver inteiro? e para ti?
já não não sei o que queres ora não?
nunca soube?
e o que quero?
é não ficar a olhar por fora da bola de cristal?
doi?
mas não tanto como a incerteza destas coisas todas.

pedro torres
viana 2009
o mamão lava a outra.

pedro torres
viana 2009

domingo, 19 de abril de 2009

sofrer é uma inevitabilidade razoável.

peter towers
"there´s a starman wayting in the sky"

sábado, 18 de abril de 2009

dos lados de um funil

estava a enrolar umas coisas que não se fumam.
a sentir que o desejo avançava sobre a prática.
não sei porquê sentei-me com vocês a falar das opções positivas que tomei na minha vida.
voltei ao meu palácio para enrolar mais umas e voltei a sentar-me.
desta vez meu ego era grande e não me consegui conter nas palavras de carinho. mushi mushi.
o meu corpo faminto dobrava sobre si próprio mas não tombava. cabeça leve. o sentido da vida.
sabes o que me dá prazer? desvalorizar cruzadamente as coisas importantes.
e enrolar. coisas que não se fumam.
entretanto convidaram-me para realizar um mini-banquete no meio dos porcos-pretos.
apeteceu-me ficar na esteira imaginada a olhar o mar laranja o resto da vida.
mas continuei a enrolar. a desvalorizar cruzadamente as coisas importantes.
de um dia para o outro cai-nos a noção... como uma bola pincher!
caiu-me a noção da fome. mascarei-me de pedro e li um jornal na parte de fora do balcão.
uma sombra vermelha ruidosa aproximou-se e fez-me companhia. até agora.


pedro barreiros
viana do castelo 2009

domingo, 12 de abril de 2009

metamorfose

vou esperar quieto até encontrar, dentro de mim, outra pessoa.

pedro
viana do castelo 2009

sábado, 11 de abril de 2009

paro. surpresa: as coisas continuam a acontecer.
largo. o mundo suspenso e auto-conduzido. não é meu.
nao tenho de ir a lado nenhum porque não. se calhar vou.
e se tiver onde ir, nao vou com ninguem, que já me esperam.
neste papel nao existe a ilusão da comunicação. só eu.
queria que fosse sempre assim. uma coisa boa é sempre uma coisa boa.
não batas o pé que fazes barulho e acordas o gato da tua vida.
e depois começas a descer aquela rua que tem uma praia lá em baixo.
e quando sobes a praia existe todavia.
por ti, passam os clientes seguintes. tambem não usam perfume.
do lado esquerdo há uma linha vertical para ti.
podes escrever o que quiseres mas não te estiques.
tenho a sensação de que não é apenas mais uma linha.
não interessa. é assim. a preguiça faz bem ao tempo.
se conseguires fazer um desenho para este texto posso-te amar.
e não vou entrar em paranoia porque já comi dois traingulos de queijo.
faço o que gosto. tu tambem mas isto não é uma conversa.
é só mais um dia que cumpro para não desistir amanhã.
hoje a noite tem riscas horizontais mas fico de pé.
não escrevo só para ti. há um ser bonito no espelho escondido do wc.
posso passar o tempo à tua espera. ou posso passar do tempo. ou por ele.
e se me dissesses olá davas-me tudo.
porque o que quero de ti...
pedro barreiros
viana do castelo 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009


sinto-me em casa...


pedro barreiros
viana do castelo 2009

o meu mercedes é maior do que o teu


chove lá fora. chove em cima dos meus dedos. e só não chove quando a consequência é maior que a causa, que nem sempre o é.

o adeus custa (muito obrigado), a chuva passa e a corrida começa mas perderam-se os sapatos pelo caminho porque não existe sentido lato. sois demasiado pequenos para o entender e para o desejar.

nesta curva-caminho de um traço qualquer perde-se o essencial para ganhar a ilusão de que o amor não existe.
"e só assim... não existe mesmo"


pedro
viana do castelo 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

depois da porta, uma mesa e uma cama

sonho com um gajo de barba, que bebe vodka e que tem dois filhos ou mais. identifico-o, reconheço-o, abordo-o. enquanto me comenta algo, entra outra personagem no palco. já estou às apalpadelas a alguém. lembro-me de uma camada desfocada de pele inteira. um enchido gordo. lembro-me de ser assertivo. ele estava na mesa ao lado, há mais tempo do que eu seria capaz de somar. quando o vi, levantei-me e cumprimentei-o escrupulosamente. "tinha saudades tuas". voltei ao enchido, esvaziei-o e acordei. lembro-me de ser assertivo.


pedro torres
guarda 2009

sábado, 21 de março de 2009

distracção

para quem não sabe, o saber é um momento especial. é uma luz esquisita e difusa. é um grão de areia disperso e descontextualizado. é uma dúvida, ou muitas, do saber que se sabe alguma coisa.
andamos demasiado atentos ao saber como força motriz dos nossos sentidos. andamos demasiado atentos à percepção intelectual e ao "sentimento moderno". à procura distraída de um rumo, muito ou pouco lógico.

nos meus sonhos, há uma laranjeira auto-reprodutora, um gato semi-vadio, um cão ausente, uma casa assim-assim e uns miudos a correr. há uma mulher. miuda. é raro lembrar-me do meu sonho, que ocupa uma posição desvantajosa na corrida da vida.

estou com comichão nas beirinhas.


pedro barreiros
viana do castelo 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

vou já a correr atrás de ti, rua fora.
porque estou forte das pernas e perdido da cabeça.


pedro barreiros
guarda, 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

o homem-enguia

o conceito referencial de homem-enguia é o meu pressuposto para a criação de mais uns textos soltos sobre assuntos escorregadios e ásperos. hoje não me apetece escrever. doi-me a ponta dos dedos e ainda não bebi.


pedro barreiros
guarda, 2009

não te deixes enganar, homem, que ainda acertas

não venhas menina com esses passos.
que o peso de te ver desfazer,
é maior que o do teu corpo no chão.
pedro barreiros
(uma outra, não nova, abordagem comunicativa)